As bebidas de meu pai

17 de março de 2014 às 14:42

Duo Bebida – Por Aldo Cadorin

vinhos1Lembro-me de quando era criança, nas refeições, por mais frugais que fossem, o vinho era indispensável, sobretudo no inverno. Nestas épocas, as sopas quentes sempre antecediam o prato principal.
Meu pai colocava sempre um pouco do vinho tinto seco na sopa. Depois, ele e os adultos tomavam uma taça de vinho para acompanhar a refeição. Vez por outra, nós crianças podíamos tomar um gole, geralmente com açúcar.  Na época, o vinho era feito na região, com uvas comuns de mesa que eram mais fáceis de cultivar. As videiras de uvas especiais trazidas pelos imigrantes italianos não progrediram e foram se extinguindo com as doenças daqui. Comprava o vinho em barricas de madeira de 100 ou 120 litros, o transferia para garrafas, colocava a rolha e cobria com cera para vedar.

As garrafas seguiam para o porão através de um alçapão no assoalho. Comercializava o vinho também em garrafa ou copo em nosso estabelecimento comercial, junto com os secos e molhados.
Hoje, vivemos um panorama de belos vinhos finos catarinenses e brasileiros e nosso país é um dos lugares onde a diversidade de vinhos do mundo é muito ampla, para nossa sorte. Pena que ele não é tratado como alimento como em muitos países, pagando assim impostos exorbitantes como bebida alcoólica.
Ontem e hoje, o vinho continua sendo o par perfeito para completar uma refeição.
No dia e mês dos pais, sugiro homenageá-los com um belo tinto encorpado. Quem sabe o Innominable catrinense da Villaggio Grando ou o Gaucho Storia da Casa Valduga. Da Argentina, da Viña Alicia ou a linha Gala do Luigi Bosca. Do Chile, da De Martino ou El Principal.

Pra esquentar

Já nas manhãs bem mais frias de inverno, o bule de barro de café recém-passado estava cedinho no fogão de lenha. Permanecia assim e reabastecido o dia inteiro, capricho da minha nona Tereza, imigrante do Veneto, Itália.
Meu pai colocava o café preto na xícara e completava religiosamente com cachaça para espantar o frio. Era um ritual seguido depois pela minha mãe e demais adultos (o café da manhã propriamente dito vinha depois).
O hábito tinha sido transmitido pelo nono Giovanni, também oriundo.
Na Itália, originalmente colocava-se a grappa, a aguardente do vinho. Na falta desta, adaptaram a cachaça.
No dia 13 de setembro comemoramos o dia nacional da cachaça. Pura ou na caipirinha, é brasileiríssima da gema. Nasceu nos alambiques de cana e originalmente tomada por escravos e gente humilde. Produto da destilação do caldo de cana, distinta do rum da América Central que é destilado do melaço de cana.
Conhecimento e tecnologia no plantio, na destilação e no armazenamento em barris de carvalho permitiram termos hoje um produto de alto padrão. O reconhecimento internacional alçou a cachaça de qualidade a um status de chique e requintada. Todo bar que se preze pelo planeta ostenta pelo menos um tipo de nossa cachaça.
Ou chame-a por um dos cerca de 2.000 sinônimos que ela tem no Brasil! Na próxima feijoada, faça um aperitivo antes e ao final com uma cachaça de boa cepa. Durante, tome uma caipirinha. A legítima, de cachaça.
Aprecio a joinvillense Velho Condeixa, as catarinenses Sonho Real e Refazenda e a gaúcha Weber Haus. No Brasil, das artesanais Minas se destaca. Você pode ir ao topo com uma Havana-Anisio de Santiago de Salinas (MG) ou pode escolher uma das cerca de 5.000 marcas artesanais.
Quando falamos de tomar um aperitivo de cachaça, sempre pensamos do beber consciente e moderado, do compartilhamento social com amigos. Quem não puder ter este controle, melhor ficar longe dela, pois ali para a amizade e entra a intriga.
Ao bebê-la, só não se esqueça de antes dar um gole pro santo, como manda a tradição, numa homenagem ao Pai Preto .Ele vai devolver em saúde, fartura e felicidade. Num ato generoso, jogue um gole a mais para nosso país, para menos corrupção e mais educação, segurança e saúde. Afinal, ela é nossa e ninguém tasca!