EM BUSCA DOS AROMAS PERDIDOS

24 de dezembro de 2023 às 10:50

Neste início de ano não vou falar de vinhos e espumantes.Como nesta época estamos sempre a procura de novas propostas para o país e para nós mesmos ,vou propor a você uma busca por mais AROMAS na comida e na bebida, melhorando assim a qualidade no comer e beber.
De passar a sentir os aromas dos alimentos assim como fazemos com os vinhos quando os bebemos prestando atenção.Parece pouco? De cara temos que comer mais devagar,caso contrario,adeus aromas…Não se trata de” fast ou slow food”,mas sim de usar mais o olfato para um prato bem elaborado,para um arroz ou mesmo para um simples pão de queijo…
Fui entender.Na gastronomia,visão e paladar dão de goleada, entre doçura, acidez, salgado,amargo e agora também um quinto sabor, o umami.Por que esta marginalização do olfato, quando sabemos que somos capazes , com treino,de reconhecer,memorizar e relembrar até cerca de 10 mil odores?
Quase desanimei com Darwin e Freud.Era isso mesmo.No processo evolutivo estamos abandonando este “sentido mudo”.Passamos a caminhar eretos.A visão tomou o lugar do olfato.Nosso nariz se afastou do chão,etc e tal…..
Gregos e romanos valorizavam os aromas/perfumes.Até o vinho tinha fragrâncias adicionadas.
A Idade Media foi um desastre para o olfato.Sua associação com a sedução e a mística transformaram os aromas em coisas futeis…
Hábitos de higiene em maior quantidade de banhos também diminuíram a importância dos aromas/fragrâncias…
O cristianismo também colocou uma pitada de bloqueio,elegendo-os como pecado.
Nas ultimas decadas contudo,o olfato,este elo perdido,está voltando a ser praticado sobretudo na enogastronomia. Precisamos ver como natural procurar detectar à mesa os aromas dos alimentos e bebidas e não como uma caça a defeitos…
Odores online no futuro?Talvez e daí sua importância retornaria.
Estudo do olfato até mereceu o Nobel de Medicina em 2004.Descobriu-se que milhares de diferentes genes atuam como receptores olfativos.Que um odor(ou sabor) especial pode desatar velhas recordações.Aliás,Marcel Proust,na sua obra “Em Busca do Tempo Perdido” abordou muito bem o tema.”Ah,as madeleines…”
Assim,um prato e/ou bebida servido  numa ocasião singular altamente aprazível pode fazer com que a lembrança fique retida na memória olfativa e volte quando consumido anos mais tarde, proporcionando a satisfação de outrora …
Adicionando à visão e ao paladar um olfato mais apurado em nossa alimentação (comida ou bebida) do dia a dia ,esta crescerá em qualidade .De quebra,vamos comer mais devagar e menos.
Um novo ano de muitos aromas em nossas vidas!

escrito por Aldo Cadorin, sommelier ABS-PR/Brasil,FISAR/Italia e WSET/level 2.